Teatro potiguar mostra em São Paulo com quantos Nordestes se faz um Brasil

Se cada nordestino representasse sua região de origem, só em São Paulo haveriam 5,6 milhões de nordestes diferentes. Esse é o contingente de nordestinos que moram na capital paulista, de acordo com a estimativa do censo do IBGE de 2015.

Duas visões desses nordestes serão apresentadas de sexta a domingo, em palcos distintos de São Paulo, por grupos de quatro do Rio Grande do Norte, o estado localizado mais ao nordeste do Nordeste do país.

Os grupos de teatro Carmim e Casa de Zoé cantam a própria aldeia e se valem da cartilha de Tolstoi para reafirmar que o Nordeste é universal. Os espetáculos “A Invenção do Nordeste” (Camim) e “Meu Seridó” (Zoé) ficam em cartaz de sexta-feira a domingo nos teatros do Sesc de 24 de maio e Bom Retiro, respectivamente.

O premiado espetáculo “A Invenção do Nordeste” desembarca em São Paulo após curta temporada de sucesso no teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Inspirada no livro homônimo do historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr, a peça vem rodando o país desde 2017 e já conquistou nove prêmios, entre eles o Shell de melhor dramaturgia, o Oscar do teatro brasileiro.

Para o dramaturgo e ator Henrique Fontes, o Nordeste que o Carmim leva para o palco é o nordeste que dispensa verdades absolutas:

- É um nordeste da dúvida. Um Nordeste questionado enquanto identidade, sentimento e destino político. A Peça "A Invenção do Nordeste" , a exemplo da obra homônima em que se inspirou, do professor Durval Muniz Albuquerque Jr. , busca estremecer certezas da elite oligarca brasileira que, historicamente, têm colocado o Nordeste e o nordestino refém dos seus objetivos de dominação. A peça, através do riso, mexe com placas tectônicas de valores e morais nordestinizadores, retratando o cotidiano de atores e diretores brasileiros”, analisa.

Já “Meu Seridó” dialoga com um Nordeste imaginário e delirante, um lugar arcaico e mítico, território nostálgico de arengas e amores. Segundo César Ferrario, o diretor do espetáculo, o Nordeste de que trata o grupo Casa de Zoé é onipresente:

- É um Nordeste composto da mesma matéria do sertão de Guimarães, que está em todo lugar. Ao falarmos dessa pequena região que nomeia o espetáculo, “Seridó”, sem arrodeio tocamos nas questões universais”, reflete.

Ao contrário do Carmim, que já levou A Invenção do Nordeste para São Paulo, essa é a estreia da Casa de Zoé com Meu Seridó na paulicéia. O espetáculo foi elaborado para ser apresentado em praças, ao ar livre. Porém, Ferrario conta que o grupo está satisfeito com o resultado da adaptação feita para o teatro de palco:

“O espetáculo foi pensado e construído para as ruas e praças do interior do Rio Grande do Norte. Alguns ajustes foram feitos para colocar a obra no palco, na caixa italiana, mas para nossa surpresa a linguagem popular, simples, tem mostrado sua força por onde passamos. A receptividade tem sido muito favorável. Estamos compreendendo que falar de forma simples não nos impede de evocar questões e sentidos profundos”, diz.

“A Invenção do Nordeste”
Grupo Carmim
Direção: Quitéria Kelly
Elenco: Henrique Fontes, Mateus Cardoso e Robson Medeiros
Assistente de Direção, dramaturgia audiovisual e desenho de luz: Pedro Fiuza
Local: Sesc 24 de maio
Sexta-feira (2): 21h
Sábado (3): 18h e 21h
Domingo (4): 18h.

“Meu Seridó”
Casa de Zoé
Direção: César Ferrario
Elenco: Caio Padilha , Igor Fortunato, Marcílio Amorim, Nara Kelly e Titina Medeiros
Local: Sesc Bom Retiro
Sexta-feira (2): 21h
Sábado (3): 21h
Domingo (4): 18h