Todos pela Revolução! Mas, o que é mesmo revolução?
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13 de agosto de 2021
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Antes de mais nada não devemos aceitar a estranha tese de que nossa situação política atual é derivada da nossa “falta de educação” ou “ignorância”, derivada da nosso processo de formação histórica. Basta olhar para a educadíssima Europa e veremos que essa estranha tese, inclusive aceita por boa parte dos que se dizem de esquerda ou progressistas, não se sustenta. Os casos da Itália, que teve uma década de governo do falastrão Berlusconi, e onde a extrema-direita neofascista prospera; a Alemanha, onde os neonazistas hoje são a terceira força política; a Hungria, governada por um fascista enrustido; a Polônia, que tem um governo extremamente reacionário; e a Ucrânia, governada por neonazistas.

Devemos, posto isso, olhar para as nossas entranhas e verificar as nossas especificidades históricas para entender e compreender a longevidade da dominação da chamada “elite” brasileira e de como essa dominação brinca com a democracia, chagando, nesse momento, a estabelecer a regra da exclusão de toda e qualquer força política que tenha outro projeto de país ou nação. Sem esse processo de necessária imersão no nosso passado, tendemos, inexoravelmente, a ficar prisioneiros de discursos distantes da realidade, servindo apenas para alimentar a militância e, quando muito, atrair os setores mais radicalizados da sociedade, esmagadoramente saídos da classe média.

É dolorosamente necessário dizer que o discurso “radicalizado” ou “revolucionário”, de uma certa parcela da Esquerda, não tem efeitos práticos e, quando muito, serve para fazer ferver o sangue daqueles que detestam os governos de direita e odeiam esse atual governo, e com toda razão, diga-se de passagem. Mas não basta.

Para ser ter uma revolução, não como tática, mas como processo, são necessários vários elementos que emergem diretamente das lutas sociais, o que significa dizer que sem o envolvimento de uma boa parte dos trabalhadores nessa luta, ela se dispersa. Da mesma forma quando os trabalhadores se organizam para defender seus direitos sociais e econômicos, isso não significa que esse movimento atingirá grande parte da população, pois, com apenas 12% de trabalhadores sindicalizados, boa parte deles em sindicatos de servidores públicos, não dá para imaginar que um “sindicalismo revolucionário” se espalharia como vento na mente e corações dos trabalhadores.

O que a Esquerda ainda não parece ter entendido é que a tão propalada “conscientização”, não se dá de forma mecânica, automática, como se um estalo fizesse com o dominado passe a rejeitar a dominação e se insurja contra o dominador. Me causa uma certa irritação quando vejo militantes de esquerda reclamarem da “despolitização do povo” ou “precisamos dar consciência ao povo”, como se este fosse um bloco homogêneo e disposto a ouvir a “voz da revolução”.

Nosso estágio de desenvolvimento e, por consequência, a superestrutura decorrente desse processo, leva o trabalhador a votar contra ele mesmo; leva o trabalhador a acreditar que aqueles que os odeiam, são suas melhores opções de voto; leva o trabalhador a escolher ser “guiado” pela direita, que em nenhum momento da história da humanidade, teve como princípio a igualdade social; leva o trabalhador a abraçar causas reacionárias e a mergulhar na xenofobia, discurso preconceituoso e por aí vai.

Quebrar essa “alienação”, apenas pela via eleitoral, é uma utopia, mas chegar ao parlamento é um dos elementos necessários para começar a virar o jogo, mas para isso a esquerda tem que eleger candidatos e, nesse ponto, estamos distantes desse primeiro passo.

Não vamos nos iludir com a “revolução” pregada por pequenas seitas que se dizem de “extrema-esquerda”, pois é apenas retórica e, quando muito, um conjunto de ações ineficazes e que, quando derrotadas, passam a ser justificadas pela “culpa dos outros”. No final, o trabalhador, aos olhos dessas seitas, é o grande culpado de ser dominado.

Talvez a Esquerda precise, inclusive, rever o conceito clássico de “revolução”, pois as transformações mais abruptas que ocorrem hoje, em sociedades estabilizadas, não se dão por rupturas explícitas, mas por reformas contínuas, sempre em direção ao progresso e a boa distribuição de riqueza advinda desse processo.

Em países que abdicaram da busca pela diminuição das desigualdades sociais e agora luta desesperadamente para evitar mais retrocessos sociais, o termo “revolução” se junta ao de “resistência” e tem no campo institucional um dos campos mais importantes da luta política. As lutas sociais foram, nesse momento, colocadas no canto do ringue pela própria formatação do governo fascista e a dispersão dos trabalhadores, atingidos pelo desemprego, não dá, nesse momento, condições para que suas organizações corporativas tenham muito sucesso além de lutar para evitar mais perdas.

Revolução é consequência de um processo social, em que os antagonismos de classe atingiram a patamares tão intensos, que rompesse o tecido social e, se tiver um movimento que articule e organize esse processo, deixa de ser rebelião e passa a ser revolução, no sentido mais amplo da palavra.

Portanto, as esquerdas precisam, urgentemente, rever seus conceitos e se apropriar do passado do nosso país, da nossa região, do nosso estado, do nosso município, para que possa estabelecer uma ponte sólida com a população trabalhadora.

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