Tradição e desigualdade
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Tradição e desigualdade

26 de fevereiro de 2019
Tradição e desigualdade

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Em um ambiente hierarquizado predominantemente masculino, e com normas e regras fortes de poder entre superiores e subordinados, o assédio moral e sexual com as Mulheres é um fato frequente dentro das instituições de Segurança Pública, principalmente as militarizadas.

Esses fatos precisam ser combatido e existe uma urgente necessidade de debate, apesar de não termos esse tema como prioridade nessas instituições.

Se analisarmos que o ingresso das mulheres nas corporações de segurança pública apenas aconteceu em 1950 (aqui no nosso Estado foi criada a companhia de Polícia feminina somente em 1990), verificamos que tem um curto período, mas até hoje as oportunidades não são igualitárias, tendo em vista ainda estarmos submetidas a cotas (no último concurso no RN apenas 6% das vagas foram destinadas para as mulheres). Mesmo tendo atualmente um número extremamente reduzido.

Na maioria das vezes as mulheres adentram a instituição e são imediatamente destinadas ao trabalho administrativo e burocrático, sob pretextos de que não são operacionais, e assim uma pequena parcela resiste ao trabalho operacional.

Essa desvalorização estende-se a todas as operadoras de segurança pública, nos mais diversos seguimentos, PC, GM, PM,CBOM, PR, Trânsito, Agentes Penitenciárias e etc... a negativa de suas habilidades causa um desconforto e uma profunda desmotivação por parte dessas mulheres.

Segue então as famosas “cantadas disfarçadas de elogios”, “piadinhas de mau gosto”, “insinuações” que frequentemente são proferidas por superiores (apesar de também existir por parte dos companheiros do próprio ciclo). Essas atitudes têm causado quadros frequentes de “depressão” , “medo”, “stress”, constrangimento e ansiosidade, não sendo raro o afastamento de mulheres policiais de suas atividades com esses diagnósticos.

A polícia militar tem como principal característica o seu autoritarismo que, mesmo com a presença de mulheres nas corporações, não conseguiram humanizá-la.

Segundo uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e a Fundação Getúlio Vargas, 40% das policiais femininas militares em 2015 já haviam sofrido assédio sexual ou moral por parte de seus superiores.

O quadro torna-se muito mais alarmante quando analisamos que essas mulheres, em sua maioria, não tiveram coragem para se defender ou denunciar seu agressor. Por medo de serem perseguidas, punidas, espancadas ou mortas, elas se calam e passam a conviver com essa cruel realidade.

A falta de uma política pública voltada para essas mulheres especificamente, uma ação concreta de proteção de suas vidas, e um acompanhamento adequado, além de uma formação continuada anti-misógina dentro das instituições acabam favorecendo esses abusos. Através de uma boa educação profissional na formação policial poderíamos ter resultados positivos e traríamos a essas mulheres a força necessária pra denunciar.

Quadros de depressão e stress são frequentes no público feminino, inclusive com altos índices de suicídio entre essas profissionais. No nosso Estado já foram detectados vários casos de agressões, perseguições, abuso sexual e moral, inclusive com destaque na imprensa. Infelizmente, nunca vimos os culpados serem punidos como mereciam.

Não é difícil encontrarmos profissionais mulheres que já tenham sido vítimas desses abusos. Nós policiais mulheres antifascista nos importamos com esse tema e desejamos que essa temática seja amplamente debatida dentro das instituições de Segurança Pública de nosso Estado.

Mary REGINA dos Santos Costa
2° Sgt RR da PM/RN
Policial Militar Antifascista
Ex vereadora de Natal RN

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