Twitter suspende conta de Trump e acende debate sobre democracia e controle da liberdade de expressão
Natal, RN 20 de abr 2024

Twitter suspende conta de Trump e acende debate sobre democracia e controle da liberdade de expressão

9 de janeiro de 2021
Twitter suspende conta de Trump e acende debate sobre democracia e controle da liberdade de expressão

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Dois dias após Donald Trump insuflar eleitores dele, pelas redes sociais, a invadir o Congresso americano para impedir a confirmação da vitória de Joe Biden nas eleições, o twitter suspendeu a conta do presidente dos EUA.

A medida foi anunciada na noite de sexta-feira (8) e causou um alvoroço na internet. A plataforma alegou risco de incitação à violência, o que violaria as regras de uso do microblog.

- Nossa estrutura de interesse público existe para que o público possa ouvir políticos eleitos e líderes mundiais de maneira direta. E foi construída com base no princípio de que as pessoas têm o direito de fiscalizar o poder público de maneira aberta. Contudo, deixamos claro há anos que essas contas não estão acima de nossas regras e não podem usar o Twitter para incitar a violência. Continuaremos a ser transparentes sobre nossas regras e suas aplicações", diz o comunicado oficial.

No Brasil, os conservadores radicais ligados à ala bolsonarista viram a suspensão como um ataque à liberdade de expressão de Trump e mais uma prova da “ameaça comunista” no planeta.

Já parte da esquerda comemorou a exclusão do líder norte-americano da plataforma alegando que Trump passou de todos os limites ao colocar a democracia em risco, a exemplo do que aconteceu no Capitólio. Aliás, essa não foi a primeira vez. Ao longo dos últimos quatro anos, o atual presidente dos EUA transformou o twitter numa trincheira de guerra de onde ataca inimigos, a imprensa e põe em xeque as instituições democráticas nos EUA. Derrotado por Biden nas eleições, Trump vem afirmando que o pleito foi fraudado, mas ainda não apresentou nenhuma prova das denúncias.

O argumento de risco à democracia, no entanto, não é consenso entre militantes de esquerda. O jornalista e fundador do site Ópera Mundi Breno Altman, por exemplo, saiu em defesa de Trump neste episódio específico. Para ele, o que aconteceu foi um caso de censura:

- A defesa da democracia, no mundo moderno, inclui a luta ferrenha pela neutralidade das redes: isso é, os oligopólios privados não deveriam controlar o direito à expressão e o acesso à informação. Decisões a esse respeito somente podem caber ao Estado e à Justiça", disse.

Breno Altman fala em censura / foto: arquivo

Para Altman, as empresas privadas não deveriam ter o poder de cassar a opinião de ninguém, ainda que hajam crimes sendo cometidos:

- O problema não é de mérito. Se Trump ou Bolsonaro violam ou não a lei com suas postagens. Certamente cometem vários crimes. Mas quem deve decidir a esse respeito e cercear sua liberdade de expressão? O poder público e a Justiça ou corporações privadas a seu livre arbítrio?”, questionou antes de completar:

- Trata-se de concessão ao neoliberalismo o direito das redes sociais privadas poderem suspender contas e posts sem decisão judicial. Por um acaso uma companhia telefônica pode grampear um usuário, censura-lo ou excluí-lo sem ordem judicial, salvo em caso de inadimplência?”, indagou.

A maioria dos internautas discorda da posição do jornalista. A violação das regras de uso da plataforma foi o argumento mais usado para justificar a decisão do twitter de suspender a conta de Trump.

“Decisão publicitária e tardia”, rebate jornalista e membro do Intervozes

Membro do Intervozes, Iano Flávio cobra regulamentação das plataformas digitais / foto: cedida

O jornalista potiguar e membro do coletivo Intervozes Iano Flávio também vê como um problema o fato da decisão ficar nas mãos de uma empresa privada, mas acredita que o presidente dos EUA deu motivos para a medida. Uma alternativa, segundo ele, seria a regulamentação das plataformas digitais:

- É preciso que haja regulamentação das plataformas para que a sociedade possa participar dessas decisões de forma mais aberta e democrática. É preciso regulamentar as plataformas digitais”, defende.

Ainda assim, falando do caso específico de Trump, Iano Flávio classifica a decisão do twitter como “tardia e publicitária”:

- Acho que foi uma decisão tardia, já que Trump vem atentando contra a democracia há bastante tempo. O principal problema disso tudo é que essa decisão fica na mão da empresa ou, em alguns casos, de decisões conflitantes da justiça. Para mim, me parece uma decisão muito mais publicitária do que realmente uma medida de defesa da democracia - coisa com que essas empresas não tem qualquer compromisso”, finalizou.

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