Quando o Sr. Alberto saiu de casa no dia 1º, ele não tinha pressa, nem propósito. Queria apenas sentir o cheiro do ano novo. Mas topou com as ruas vazias de gente. Ainda que fosse feriado, era estranho. Nenhuma pessoa para reclamar do calor ou do lixo na calçada. Apenas um silêncio vazio e oco.
Dia 2. Choveu no 2º dia. E isso foi tudo o que aconteceu. O Sr. Alberto gostaria de falar mais sobre os novos tempos tão celebrados, mas até agora todas as mudanças apregoadas vinham camufladas de desterro. Solidão.
Por isso a surpresa no 3º dia. Um solitário cidadão arrastando um carrinho cheio de entulho. Ele limpava o lixo de uma festa que ninguém lembrava de ter acontecido há alguns dias. Sim, houve festa. Que acabou tão logo passou o fervor dos tempos novos.
De tão pouca gente, já não tinham noção do tempo. Até o Sr. Alberto perdeu a conta de que dia estava. Não sabia, mas já passara meses desde o ocorrido. Sentia falta de barulho, de gritaria, de vida. Toda a vizinhança parecia estar morta ou viajando.
Um dia bateram à porta do Sr. Alberto. Vieram buscá-lo. Um sujeito bronco gritava palavras de ordens, enquanto pedia que o seguisse. Deveria ir. Como todos que já não estavam ali. Talvez sofresse, talvez nem voltasse, como todos os outros que também permaneciam fora. Mas tudo bem, afinal, era preciso mesmo mudar isso daí.