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6 de maio de 2019
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Tod@s temos visto, nesses poucos meses de desgoverno, uma notícia mais estarrecedora que outra a cada dia. A que vou comentar aqui, e que me estarrece ainda mais por minha condição de professora, refere-se ao corte de 30% do orçamento das Universidades anunciado pela turma de Bolsonaro. Para completar, o ministro da Educação, Abraham Weintraub (segundo nome no cargo depois do igualmente desastroso Ricardo Vélez) mostra-se claramente contra a universidade pública, gratuita e de qualidade ao demonizá-la simplista e levianamente.

Nem vou me deter nas suas declarações absurdas (afirmou, por exemplo, que seria melhor tirar filosofia e sociologia do ensino superior e que nos centros universitários só haveria “balbúrdia” etc.). Também me abstenho de aludir ao péssimo desempenho que ele teve durante um período de sua graduação na USP porque isso seria cair na mesma atitude vil de promover uma espécie de “caça às bruxas”, atitude bem típica deles de perseguição a quem se posiciona diferente de seus padrões. Mas preciso lembrar sempre que a irmã do nome forte da equipe de Bolsonaro, o ministro da economia Paulo Guedes, a senhora Elizabeth Guedes, é vice-presidente da ANUP – Associação Nacional de Universidades Privadas, o que é, no mínimo, muito suspeito, convenhamos. Não há como não lembrar Darcy Ribeiro, que afirmava que “a crise da educação não é uma crise e sim um projeto”: projeto de manutenção de um país que ainda traz enraizado na sua estrutura um Brasil-Colônia, dividido em Casa-Grande e Senzala, um Brasil desigual de privilégios e garantias para poucos e de sub-condições de existência para muitos, com quase nenhum acesso, com qualidade e dignidade, a setores básicos de vida, como trabalho, moradia, saúde e educação.

E por falar em “caça às bruxas”, faço aqui um gancho com um livro fantástico, “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco. Quem não tiver fôlego para sua leitura (na minha edição da Record de 2015, constam 559 páginas), pode conferir a maravilhosa adaptação cinematográfica de Jean-Jacques Annaud, de 1986, com o ótimo Sean Connery no papel principal de Willian de Baskerville, um monge franciscano que, no ano de 1327, vai a um remoto mosteiro para investigar uma série de estranhos assassinatos. Desculpem-me os que não conhecem a trama: no final, descobre-se que as mortes ocorriam porque um dos monges mais dogmáticos, o venerável Jorge (cá pra nós, um cego bem autoritário e ressentido), envenenou as páginas de um conjunto de livros que tratavam de humor, dentre os quais a parte perdida dedicada à comédia da “Poética”, de Aristóteles. Em suma, o monge fanático não queria que os outros exercessem uma habilidade humana extremamente ligada à crítica e ao questionamento: o riso. Promovia, assim, sua caça às bruxas particular e quem ousasse buscar conhecimento morreria.

Não vejo melhor analogia para o que vivemos atualmente (isso que, como afirmou o poeta Plínio Sanderson, é um estado de NeoMedievo): de um lado, Baskerville (alusão ao sagaz e inteligente detetive Sherlock Holmes?), com seus saberes diversificados e sua racionalidade excepcional (além de ser da ordem dos franciscanos, que pregavam, em síntese, a pobreza de Cristo, o que implica a necessidade de uma Igreja acessível a todos); de outro lado, o velho Jorge (alusão a Jorge Luís Borges, escritor que, embora genial, tinha posturas políticas bem totalitárias?), com sua fé cega a querer impor aos outros um mundo triste e tirano.

Não vejo melhor analogia para representar o embate Universidade versus Bolsonaro e suas variantes – conhecimento versus ignorância, luzes versus trevas etc. e tal.

Vamos à luta?

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