Ultimamente preciso ocupar duas horas semanais com banalidades, enquanto o cônjuge esperneia na sala com a combinação de azar e mediocridade do Botafogo. Tudo parece conspirar para que o alvinegro estacione entre os piores do campeonato brasileiro: gols perdidos, arbitragem criminosa e outros infortúnios que só o Botafoguense sabe listar.
E isso me afeta, não por ser torcedora. Com todo respeito, caros botafoguenses, não saberia lidar. Mas mesmo um vínculo indireto com o Botafogo é capaz de me conectar ao ciclo interminável de apreensão em torno de qualquer rodada do Brasileirão. Até supersticiosa tenho sido. Tudo na tentativa de evocar energias místicas que façam esse time jogar o mínimo.
Outro dia já afundava no sofá quando o Botafogo abriu o placar. A partida bem podia acabar ali mesmo. Jogar bonito, dar show, golear? Tenho pressa, preciso agir. E eu que só parei uns minutos em frente a TV, de passagem, mantenho a posição. Faço a marcação isolada. Nada de trocar de roupa, de ir até outro cômodo. Aqui estávamos na hora do gol, aqui permaneceremos na espera de outro.
Numa desatenção, a sorte vira. E eu me reviro, refaço o ritual, finjo indiferença, espero ser surpreendida. Mudo de lado no sofá, deixo o volume em número ímpar, dou uma olhada rápida no celular. Nada. Por hoje, nada mais a fazer. Aguardar o próximo jogo? Certamente, esperar como quem sabe o peso de cada um dos 90 minutos que virão.
Vocês não sabem o que é torcer para o Botafogo!
Ele me disse numa dessas sessões de lamentação. Não sei mesmo, mas imagino, pensei comigo mesma.