Weintraub sai, Paulo Freire fica
Natal, RN 26 de abr 2024

Weintraub sai, Paulo Freire fica

18 de junho de 2020

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Antes que fosse demitido, o ministro da Educação Abrahm Weintraub anunciou que deixa o MEC. Não havia mais clima para ele no Governo depois que o próprio ministro esticou a corda com a Suprema Corte do país.

Na escatológica reunião de 22 de abril, Weintraub defendeu a prisão dos ministros do STF antes de chamá-los de “vagabundos”.

Os ânimos entre o Governo e o STF já andam pra lá de exaltados desde que o Supremo abriu dois inquéritos que acertam o coração do bolsonarismo: o que investiga uma rede de fake news com amparo no Planalto, no setor empresarial e em gabinetes de políticos aliados do presidente da República, e outro inquérito que apura a participação e financiamento de extremistas, empresários e polítcos em atos e manifestações contra a democracia.

No domingo passado, Weintraub foi ao encontro de manifestantes e repetiu os insultos contra os ministros.

O pior ministro da Educação da história do país não deixou o Governo porque traiu ou contrariou o chefe. Pelo contrário. Cada palavra agressiva e ataque dele a opositores encontrou amparo no principal gabinete do Palácio do Planalto.

O presidente já vem fazendo ameaças diárias e acena há algumas semanas com uma ruptura política. Como o próprio deputado Eduardo Bolsonaro já avisou, não se trata de se vai haver um golpe, mas de quanto o golpe será posto em prática.

Enquanto esteve no cargo, durante pouco mais de um ano, Abrahm Weintraub brigou com desafetos, inimigos, instituições, símbolos e até com a história do país.

Por várias vezes, as agressões foram direcionadas para atacar a honra e a memória do filósofo e educador pernambucano Paulo Freire que, desde 2012, foi reconhecido pelo Estado como patrono da educação brasileira.

Freire desenvolveu em 1961 um revolucionário projeto de alfabetização inicialmente om agricultores que o então presidente João Goulart decidiu multiplicar nacionalmente em 1964. Veio o golpe, os militares vetaram o projeto, prenderam Paulo Freire e o expulsaram do país.

O educador ganhou fama, reconhecimento internacional e ainda hoje é um dos escritores brasileiros mais traduzidos no mundo. Sua principal obra, a Pedagogia do Oprimido, já foi traduzida para mais de 40 idiomas.

A saída do ministro ainda não significa que as coisas vão melhorar na educação brasileira.

Mas não deixa de ser simbólico que a imagem do patrono da Educação permaneça firme e intacta.

Weintraub caiu, Paulo Freire continua de pé.

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